sábado, 26 de dezembro de 2020

 “Você voltou para nós. Estamos tão felizes. Você cresceu tanto, amadureceu. O orgulho transborda. Você voltou.”

Sei que voltei. E estou feliz por estar de volta. Minha família parece mais completa, as relações estão mais saudáveis, estáveis e maduras. Tenho uma casa agora. Um lugar que considero meu lar. Depois de tanto tempo pulando por lares alheios, sem ter um canto para construir. Agora tenho uma casa com as minhas cores, meus jeitos e minhas nuvens. Tenho um trabalho que fica lindo no meu currículo, que as pessoas adoram ouvir sobre porque é tão interessante. Parece que me tornei alguém digna de orgulho e interesse. Tenho amigos presentes que se importam e cuidam de mim, que estão comigo quando eu mais preciso para que eu não me sinta sozinha. 

Mas não há nada. Dentro não há nada. Não sinto mais os desejos ardentes que antes sentia. Não sinto paixão. Por nada. Parece que os dias seguem passando sendo intercalados com momentos bons. Mas nada fica. Tudo me parece tão passageiro. Não há um mesmo pensamento que rodeie minha mente. Que me faça acordar com sorriso no rosto. Não há nada que faça eu me sentir completa por dentro. 

Tudo me parece normal. Medíocre. Vazio. Meus olhos me comovem. Evito encará-los porque eles me contam um segredo que ninguém vê. Você não é feliz. 

Pelo menos não tenho mais o desespero das noites em claro e de me sentir presa a uma vida que não me pertencia. Agora continuo presa, mas numa vida que me pertence. Atormentada pelo passado que segue me assombrando sem eu entender o por quê. Porque parece que eu nunca mais serei feliz? 

Não vejo graça nas coisas mundanas, nas coisas cotidianas. Consigo perceber o valor dos pequenos momentos, sempre me apaguei mais a eles. Porém eles não me bastam agora. Agora eu precisava voar até as estrelas, ver um prédio queimar, uma explosão. Eu não nasci para uma vida sem aventuras. 

Eu só tenho sentido pesar. Culpa por uma vida que eu deixei para trás. Tristeza por não ser quem eu queria ser. Solidão por não me amar mais. O amor pela vida se foi.

Não me entenda errado, eu não sou suicida. Mas constantemente quando atravesso a rua imagino um carro se chocando contra o meu corpo e levando todo esse desconforto embora.

Me sinto exausta, fraca, sem vontade. 

A última vez que me senti preenchida foi quando abri mão de um castelo que construí por 5 anos. Quando do alto da torre eu vi a tempestade chegando e não tive medo. Agora tenho medo novamente e não me sinto com o mesmo poder de antes. 

Me sinto desconectada. Um quebra-cabeça montado pela metade cujas peças estão perdidas. Eu não sinto orgulho de mim por mais que eu saiba que deva sentir. 

Eu não sei o que fazer para ser feliz. Para me sentir melhor. Às vezes a solidão nem me importa mais, às vezes ela arde tanto que meu peito queima. Eu não sei o que mudar. Eu não sei o que eu quero. 

As lágrimas são poucas. Me sinto insensível. Mais madura, sim. Mas isso não me traz conforto. Perdi parte da minha ingenuidade e inocência infantil que eu tanto amava. Já não me envolvo mais como antes. 

Eu finjo mais do que sou.


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