sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Caminho para Santiago


A arte de perder, de fato não é tão difícil de dominar.

Vá até o seu armário, sua arara, sua mala, sua sacola. O lugar qualquer que seja aquele que você guarde suas roupas.

Encare todas as histórias que elas te contam. Escute uma por uma. Relembre com dor e com pesar. Relembre com alegria e alívio.

É importante sentir todos estes sentimentos para que o processo de perda se complete.

Depois de escutar tudo o que as roupas te falam, perceba com quais histórias você não se conecta mais.

Quais história já estão na sua cabeça, aquelas que você não precisa mais de um lembrete. Aquelas que já não cabem mais em você.

Coloque elas uma ante a outra. De preferência em um lugar grande como uma cama ou o chão.

Deixe que elas conversem entre si. Que troquem palavras e que desvendem umas as outras.

Estes processos podem demorar mais que alguns poucos minutos.

Quando não houver mais nada para ser dito, mais nada para ser escutado, separe aquelas que já não se encaixam mais em você.

Guarde-as com o carinho de como quem diz até logo. Deixe-as distantes.

Já estão prontas para a separação, mas ainda não é hora.

Se acostume com a ideia de deixá-las ir.

Coloque-as em um canto, um lugar que você não use, não mexa muito e pouco veja.

Permita que elas descansem fora do seu convívio e rotina.

Mas, enquanto isso, as observe de vez em quando. Talvez uma olhada antes de dormir. Uma piscada enquanto você relaxa tomando café.

E vá

Se acostumando

Com a ideia

De deixá-las

Ir.

Toda vez que você percebe-las ali ainda presentes, veja como sua vida e você seguiram sem elas.

Sim, você também seguiu.

Tudo continuou enquanto elas repousavam.

E uma vida seguiu sendo construída ao redor delas.

Um dia então, você notará que as conexões se foram.

Que os motivos já não são mais motivos.

Como quem dorme em um dia ensolarado e acorda para uma manhã chuvosa, você despertará sem o desejo de permanecer.

Esta é a forma com a qual você as deixará partir.

Sem tentar substituí-las.

Sem tentar trocá-las.

Acontecerá um dia em que elas simplesmente não te pertencerão mais.

E você tampouco pertencerá a elas.

Neste dia, você dirá adeus.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O que você sentiu? O que você pensou? Me conta aqui!