Onde e quando?

O ano correu.
E mais uma vez,
eu não sei se fiquei
ou se fui.

Às vezes acho que permaneci naquelas memórias e que continuo esperando a campainha tocar.
Às vezes acho que fiquei naquela cachoeira junto com as palavras que você soltou numa folha envelhecida. Ou até mesmo na garrafa onde o poema foi selado.
Às vezes acho que estou nas promessas que nunca foram cumpridas e nos planos que ficaram em aberto.
Mas também
acho que fui e cada brisa que levou as flores embora.
Voeei por todos os sonhos que achei que não poderia mais sonhar.
Me perdi em novas palavras
e em algumas velhas também.
Agora,
estou encontrando meu caminho de volta à casa.

Carta

Preciso te dizer algumas coisas... Espero que você leia.
Espero que essas palavras cheguem até você.
Você precisa dar um jeito na sua vida. E tem que ser agora.
Você precisa entender e perceber que as rédeas estão nas suas mãos.
E que você é capaz de fazer as mudanças que você quer e precisa.
O conforto que a sua cama te traz é só uma ilusão de segurança.
Lembra quando você dizia que é possível se apaixonar pelas coisas? Momentos? Instantes?
Você precisa se reapaixonar por você. E pela vida.
Sei que você arrasta seus dias e que você tem força para seguir.
Mas você só é feliz quando chove...
Você só sente alivio quando venta...
Mas tempestade não é todo dia... Você precisa voltar a sentir o sol queimando na pele. Não dá pra viver à espera das tormentas.
Você precisa ... (agora é a parte difícil)
                         deixar ele ir.
Até porque ele já foi. Você partiu, mas sente o abandono. Porque você não se despediu só dele. Você sumiu de si de tal maneira que às vezes se desconhece.
Você precisa deixar ir as vidas que você não vive mais. Elas sempre te pertencerão como aquele livro empoeirado na estante.
Como aquela foto desbotada. Como as lembranças de um amor que não existe mais.
Você precisa deixar as memórias desaparecerem... Não tente mais reconstruí-las. Deixe o som da risada ir, deixe as feridas cicatrizarem, pare de contar os dias...
O passado ainda dói porque você continua apegada a ele, às vezes lamentando não estar mais lá. Você sabe que já passou mais de um ano.
Deixe o tempo correr e corra com ele.
Siga em frente e construa novas memórias.
Não tenha mais medo dos seus sentimentos. É preciso encará-los.
Sentir... do mesmo jeito que você sente o vento tocando a sua pele...
do mesmo jeito que você almeja o frio das gotas de chuva...
Deixe partir
            deixe perder
                       deixe desbotar
                                 deixe seguir
                                          deixe fluir
                                               e vá também.

                                                          Você consegue.