domingo, 20 de maio de 2018


Abotoeei todos os botões da jaqueta.,
A fechei de um jeito que não costumo.
Talvez pelo frio ou talvez por querer sentir as
vibrações da peça de roupa.

Preenchi seus bolsos e agora, preparada para a
caminhada noturna, fechei a porta atrás de mim.

Talvez fosse a sensação das despedidas cotidianas,
talvez fosse o peso que esta peça de roupa carrega,
mas quando coloquei os pés na rua, me senti diferente.

A jaqueta já tem anos e com certeza fez mais aniversários que eu.
Pensei em sua antiga dona e tentei conectá-la
comigo.

Sem a certeza de quem ela seria, encontrei o frio gelado da noite.
Caminhei me sentindo um pouco eu e um pouco outra.

Enquanto tentava entender que sensações eram aquelas, olhei pro céu.
Nosso reencontro foi belo.
A lua crescente me desejou boa noite e eu desejei o mesmo de volta à ela.

Caminhei pelas ruas jogando uma espécie de pique e esconde.
Eu não via mais ninguém nas calçadas além de mim e nada mais no céu além dela.
Meus passos foram acompanhando o movimento do céu, enquanto meus olhos, casualmente, olhavam para baixo para que eu não tropeçasse em nada mundano.

Segui seus esconderijos atrás das árvores, vi sua luz sumindo por entre as folhas.
Fomos andando juntas em retorno a casa.
Eu e a lua.

Em uma esquina, a perdi de vista.
E fiquei te buscando no céu a minha frente. Tamanha foi minha surpresa quando te percebi rindo para mim, a minha direita.
Vi um rosto no seu contorno sombreado. Seria o rosto de quem possuira esta jaqueta anos atrás?
Você me observava de volta do mesmo jeito que eu te procurava.

Quando o concreto cortou a brisa fresca da noite, fui até minha janela para te procurar.
Me esgueirei, mas não te encontrei.
Desabotooei todos os botões da jaqueta,
a dobrei
e guardei no armário
com a mesma sensação incompreendida
da lua que se escondeu de mim.

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