quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Paciência

Paciência
Fragmentada entre os dizeres
a ansiedade não dá espaço
e é tudo agora
precisa ser agora
poque o raio encostou na areia
e fez vidro.

Eu preciso quebrar ele
mas
a sua
calma
me acalma.

Pac
i
ênci
a.
Pra não quebrar o vidro agora.

domingo, 24 de dezembro de 2017

Quebra-cabeças

Nós vamos nos decifrando

como dois quebra-cabeças que não sabem
se encaixar.

Querendo entender e aprender com cada curva
cada formato diferente
que proporciona os infinitos encaixes.
Virando as peças de cabeça para baixo
de lado
de frente de costas
tentando entender cada linha.
Cada pedaço de letra e cada traço do desenho.

Decifrando a si e ao outro
para se reapresentar
se reconhecer.
E quem sabe,
em algum momento,
conseguir juntar todas as peças do quebra-cabeça.

sábado, 23 de dezembro de 2017

Reencontro

Após anos nos reencontramos.
Dentre outras paredes
outros sentimentos
e outros ares.
Te vasculhei como se procurasse me reencontrar.
Não encontrei nada que me preenchesse novamente.
Mas ali, em algum lugar, eu senti.
Quando toquei novamente suas teclas e ouvi o barulho alto que faziam, senti.
Senti algumas palavras que perdi e algumas outras que guardei.
Senti minhas transformações, poucas conquistas e as mudanças.
Te encontrei de novo e bati nas teclas querendo colocar isso pra fora.
O prazer do reencontro material.
O meu pedaço de individualidade.
Aquele momento em que tudo some
e só resta eu
e você
ao som de tac tac tac

12.07.17

Tempestade

Eu sempre tive medo de trovões, raios, relâmpagos.

Sempre que eles aconteciam eu fazia de tudo para me esconder.
Não queria ouvir o barulho, ver as luzes nem sentir as vibrações.
Eu sentia medo.

Mas agora que estou no meio de uma tempestade,
com a vida virada completamente de cabeça para baixo,
eu sinto.

Escuto todos os sons estridentes que parecem me ensurdecer.
Vejo as luzes mudarem completamente as cores e formatos dos céus. Sinto as vibrações de todo raio que cai na areia. E tremo com elas. Cada parte do meu corpo treme e se transforma
nesse instante.
Agora estou sentada na minha praia azul. Naquela em que tantas vezes me afoguei. E todos esses sentimentos me dão vontade de respirar. Puxo o ar para dentro dos pulmões com mais força do que minhas tragadas nos cigarros das ilusões. E enquanto o ar percorre minha garganta vou me sentindo respirar.
Emergir.
E percebo então que eu não respirava há muito tempo. Sinto o gelado e o quente da fumaça das transformações e só quero soltar isso tudo pela minha boca.
Quando solto, enfim, percebo que prendia minha respiração há tanto tempo que já nem sabia mais dizer quando foi a última vez que respirei.

Tic-tac

O tempo finge que passa normalmente.
A rotina disfarça o desconforto.
Até que você acorda.
TIC-TAC.
Os ponteiros param de bater. Cada minuto é uma imensidão.
TIC.
Me afundo em pensamentos e não sei o que fazer.
Fico estagnada na mesma pergunta.
TAC.
A sua presença me ignora e eu passo a acreditar que não estou mesmo aqui.
TIc.
Cada passo que me desvia, cada olhar que não me vê. E agora somos dois, sozinhos. Dividindo um espaço que fica cada vez menor.
TAc.

Viajei 50 anos e só se passaram dois minutos.
A tortura do silêncio e o medo de retornar.
Como faço para corrigir meus erros?
Tic.
Quebrar todos os relógios vai diminuir esse cansaço?
Tac.
Acordei do ilusório mundo dos sonhos para uma realidade que me apavora.
O silêncio se tornou meu companheiro.
Tic-tac.
Minhas palavras não são mais doces, elas são ácidas e corroem.
Às vezes parece que meu coração bate acelerado, no ritmo dos ponteiros. Às vezes parece que ele nem bate mais.
E eu continuo sem saber o que fazer. Esperando que as palavras escritas te atinjam mais do que as faladas. Porque minha voz ficou
no barulho dos ponteiros
    que eu já nem escuto mais.