Algo de mim - a tempestade
"Escreve a história dessa dor e eu te livro dela. É uma troca: eu te prometo."
domingo, 24 de dezembro de 2023
A blusa do meu avô
terça-feira, 25 de abril de 2023
Alerta de Risco
saí de casa um pouco tonta segui tonta em direção à praia tonta sentei na areia não sei se é cansaço, falta de vitamina ou qualquer outra coisa ALERTA DE RISCO como escolher quais riscos correr? o prédio que tanto ajudou a me localizar, hoje me impede de caminhar ando de cabeça baixa e com a vista perdida porque tenho medo de ver os óculos protegem a vista e a música os ouvidos eu nem vi o navio passar - em um momento estava aqui e logo já tinha desaparecido. eu perdi de vista eu também te perdi de vista e tenho tanto medo de te encontrar quanto quero que você me veja pelas ruas. cada vez que o telefone não toca é um alívio carregador com uma pitada de dor o navio sumiu por trás das montanhas e você sumiu por trás da vida por trás de cada esquina onde nos encontrávamos… e mesmo assim nunca deixou de estar presente em mim como uma ferida que não sara… já coloquei remédio protegi expus fiz tudo que podia para te curar só quero que passe e vire cicatriz
porque cicatriz
é marca
quando a dor
deixa de
latejar.
quarta-feira, 4 de janeiro de 2023
Controle
a ansiedade quer apertar, mas não aperta
o estômago acha que tem que embrulhar, mas não embrulha
você disse que não tem disposição
transformando sua confusão em mil palavras perdidas inventando uma equação que só você sabe resolver
mascarando isso com precisar me proteger
precisar se responsabilizar
precisar cuidar
enquanto na verdade você só estava respeitando os limites que eu coloquei
se você não tem disposição para um tipo de conversa sequer
você não tem disposição pra mim.
e eu estou aprendendo cada vez mais que não posso me colocar em lugares que não caibo.
ou sobra ou falta
ou sobra ou falta
ou falta ou sobra
se dispor é estar presente de corpo e alma, a querer
querer a cada instante
de maneira natural e leve
você não está disposto a me ter, mas está disposto a me perder
se você não está disposto, você não me quer
e eu não vou mais ficar onde não sou querida
nossos limites se atravessaram algumas vezes
e eu deixei os seus ultrapassarem os meus
os meus são muito extensos e se alongam demais, eu sei
mas eu deixei os seus irem comandando.
porque no final das contas é sobre isso: controle
sobre quem está na frente e quem está atrás
alguém sempre se beneficia mais
o tempo todo você disse que quem iria controlar era eu
e eu acreditei até agora
mas você criou uma história e inventou uma ilusão enquanto jogava o jogo exatamente do jeito que queria
e eu sempre estive ali
coloquei algumas regras novas
mas ainda sim a disposição das peças era toda sua.
até aqui eu sempre estive sem controle
não tive controle com o sentimento intenso que me arrebatou
que jogou tudo pelos ares e me fez viver num quase sonho
eu também não queria ele mas, não pude controlar
não tive controle quando você me cobrava e eu achava direitinho que estava tudo bem e
que você podia ocupar esse lugar
porque na verdade você podia ocupar todos
podia ter o que quisesse.
controle.
eu estava sempre disponível, sempre estive a sua mercê
e o controle
era todo seu.
agora me vejo repensando em tudo
e não sei quanto tempo vai durar
por isso escrevo
para que dure.
sinto o sabor da mudança, a felicidade do caminho e a calmaria do procresso
as máscaras caem
a fantasia se esvai
a perfeição desaparece
e agora eu te digo
o controle é todo meu.
sábado, 26 de dezembro de 2020
“Você voltou para nós. Estamos tão felizes. Você cresceu tanto, amadureceu. O orgulho transborda. Você voltou.”
Sei que voltei. E estou feliz por estar de volta. Minha família parece mais completa, as relações estão mais saudáveis, estáveis e maduras. Tenho uma casa agora. Um lugar que considero meu lar. Depois de tanto tempo pulando por lares alheios, sem ter um canto para construir. Agora tenho uma casa com as minhas cores, meus jeitos e minhas nuvens. Tenho um trabalho que fica lindo no meu currículo, que as pessoas adoram ouvir sobre porque é tão interessante. Parece que me tornei alguém digna de orgulho e interesse. Tenho amigos presentes que se importam e cuidam de mim, que estão comigo quando eu mais preciso para que eu não me sinta sozinha.
Mas não há nada. Dentro não há nada. Não sinto mais os desejos ardentes que antes sentia. Não sinto paixão. Por nada. Parece que os dias seguem passando sendo intercalados com momentos bons. Mas nada fica. Tudo me parece tão passageiro. Não há um mesmo pensamento que rodeie minha mente. Que me faça acordar com sorriso no rosto. Não há nada que faça eu me sentir completa por dentro.
Tudo me parece normal. Medíocre. Vazio. Meus olhos me comovem. Evito encará-los porque eles me contam um segredo que ninguém vê. Você não é feliz.
Pelo menos não tenho mais o desespero das noites em claro e de me sentir presa a uma vida que não me pertencia. Agora continuo presa, mas numa vida que me pertence. Atormentada pelo passado que segue me assombrando sem eu entender o por quê. Porque parece que eu nunca mais serei feliz?
Não vejo graça nas coisas mundanas, nas coisas cotidianas. Consigo perceber o valor dos pequenos momentos, sempre me apaguei mais a eles. Porém eles não me bastam agora. Agora eu precisava voar até as estrelas, ver um prédio queimar, uma explosão. Eu não nasci para uma vida sem aventuras.
Eu só tenho sentido pesar. Culpa por uma vida que eu deixei para trás. Tristeza por não ser quem eu queria ser. Solidão por não me amar mais. O amor pela vida se foi.
Não me entenda errado, eu não sou suicida. Mas constantemente quando atravesso a rua imagino um carro se chocando contra o meu corpo e levando todo esse desconforto embora.
Me sinto exausta, fraca, sem vontade.
A última vez que me senti preenchida foi quando abri mão de um castelo que construí por 5 anos. Quando do alto da torre eu vi a tempestade chegando e não tive medo. Agora tenho medo novamente e não me sinto com o mesmo poder de antes.
Me sinto desconectada. Um quebra-cabeça montado pela metade cujas peças estão perdidas. Eu não sinto orgulho de mim por mais que eu saiba que deva sentir.
Eu não sei o que fazer para ser feliz. Para me sentir melhor. Às vezes a solidão nem me importa mais, às vezes ela arde tanto que meu peito queima. Eu não sei o que mudar. Eu não sei o que eu quero.
As lágrimas são poucas. Me sinto insensível. Mais madura, sim. Mas isso não me traz conforto. Perdi parte da minha ingenuidade e inocência infantil que eu tanto amava. Já não me envolvo mais como antes.
Eu finjo mais do que sou.
Deixe o vento entrar
É bem difícil te decifrar... Eu não entendo o que você quer de mim.
Uma vez me perguntaram isso, e me foi quase impossível responder “O que você quer de mim, Geovana?” Eu tremi por dentro, minha garganta fechou, não consegui dizer, mas eu sabia muito bem o que eu queria.
E você? O que você quer? Isto é apenas uma amizade ou poderia ser algo mais? Eu não compreendo os teus sinais. Tampouco sei se são sinais ou não. Se estiver indecisa, prefiro saber. Pelo menos terei algo com o que lidar. A inconstância e a dúvida que ficam no ar não nos caem bem. É sempre preferível ter um sim ou um não.
Se você me conhecesse, me chamaria para tomar chuva agora. Se gostasse de mim saberia que eu te quero, na rua, enquanto as gotas me fazem sentir frio. Nossa distância é tão pequena que antes mesmo de sair eu já cheguei. Mas eu não sei se as portas pelas quais quero entrar estarão abertas. Não sei até onde você me permitirá ir. Se poderei chegar mais perto de te compreender e entrar em contato com seus anseios e amores.
Eu só gostaria de saber como seria. Para tirar essas suposições da minha cabeça. Para entender, principalmente, se o que vejo é real ou se está só dentro de meus olhos.
Você diz que gosta da chuva de dentro de casa, eu gosto dela em contato com a minha pele. Eu gosto de sentir as gotas fazendo meu corpo arrepiar. Você fecha todas as janelas que eu abro. Como eu posso sentir o vento assim?
E se você me conhecesse, saberia que o que mais me importa é sentir o vento.
domingo, 31 de maio de 2020
Um Domingo quase bom
sexta-feira, 8 de maio de 2020
e pedaço por pedaço ressignificar tudo que aconteceu
domingo, 5 de abril de 2020
Café
sábado, 11 de janeiro de 2020
?
Eu voltei aqui.
Buscando nas migalhas
Procurando nos retalhos
O que possa haver de mim.
Descobrindo as perguntas que tenho que fazer
Conhecendo respostas que não conhecia.
Mas dentro de cada estrela
Que eu não vejo cair no céu (só imagino)
Tem um pedaço
De nós.
Pelo menos
A minha vida
É minha
Agora.
Apatia
Aula De Subjuntivo
“Isso é só um momento de uma vida muito grande que você tem pela frente.”
Exatamente às 09:00 o circo começa. Por cima da máscara que já está em meu rosto eu pinto um palhaço. Deixo meu lado divertido fluir sem limites enquanto tento ensinar o que uma metodologia diz que eu tenho que ensinar. Leve em consideração que além de ensinar eu preciso ser carismática, engraçada e fazer com que os alunos gostem de mim. Não que eu não me importe se as pessoas não gostam de mim, mas eu nunca fiz tanta questão de agradar a todos. Mas isto é uma regra do trabalho. Depois das horas falando, ouvindo, fingindo interesse, sentindo interesse, ensinando e aprendendo eu paro para almoçar. Odeio comer sozinha, então acabo preferindo me juntar a algum colega e fixar ainda mais a máscara. Às vezes eu deixo ela cair por um momento e sou mais sincera, mas às vezes eu também acho que isso já faz parte da personagem. Mais horas passam e meu cérebro é sugado por histórias que eu não queria ouvir e histórias que eu até queria ouvir, mas acabo não guardando na memória. “De onde você é mesmo?” Enquanto eu explico o presente do subjuntivo eu me lembro das crises de ansiedade que eu tive durante os primeiros meses. Como demorei estudando esse conteúdo achando que eu não entendia direito e não saberia explicar. De fato eu não entendia e não sabia. Penso em como é mais fácil agora que pelo menos eu entendo. Penso também nas exigências do meu chefe e como o ambiente de trabalho é tóxico e abusivo. Será que realmente existem ambientes que não sejam assim? Lembro da nota. Da minha nota de avaliação baixa que é o grande trunfo na mão dele e o dá permissão para me ameaçar e me cobrar ainda mais. Eu cansei de ser um brinquedo.
Seria ótimo se durante aquelas duas horas eu estivesse pensando apenas no presente do subjuntivo, né? Acontece de os alunos devolverem as perguntas que eu faço. “O que você fará ano que vem?” (Para trabalhar futuro do indicativo, por exemplo). Embarco na jornada deles e em suas respostas sempre tão positivas. Quando eles percebem que eu sou um ser humano e por algum motivo tem interesse em mim e me revidam a pergunta, eu fico perdida. Eu não sei, eu não sei... Eu digo que não sei. Estou aprendendo a dar exemplos falsos. Porque eu não poderia responder “sair dessa merda”, “sair desse país violento”, “procurar um emprego que me valorize e me faça sentir bem e não ter crises de ansiedade que eu nunca tinha tido antes...” Acabou. Já posso voltar para casa.
O metrô é muito mais insuportável agora. Eu entro aos empurrões e tento me espremer perto da barra imaginando que se eu me encolher com força o suficiente ninguém mais poderá me enxergar. Aguento e agradeço o privilégio de serem poucos minutos, talvez esta seja a melhor coisa desse emprego. Chego sempre esgotada. Sem energia, sem vontade. Eu só quero descansar e comer qualquer coisa.
Os dias se repetem assim. Há eventuais surpresas. Há momentos incríveis. Há o que valha a pena. Só não é sempre. A dor de cabeça é quase tão constante quanto o desconforto estomacal e mesmo com essa festa dentro de mim me sinto só e vazia. A frase volta, a esperança falsa e hipócrita de que amanhã vai ser melhor. Amanhã pode ser melhor. Tudo parece tão constante e instável ao mesmo tempo. Eu me pergunto se o resto do mundo tem os mesmos questionamentos subjetivos que eu. Acho que a minha percepção da realidade pode ser alterada.
Percebo que estou sem cigarros e sou obrigada a descer para comprar. Esta é a única obrigação que eu tenho comigo mesma: alimentar meu vício. Ele não pode morrer enquanto eu estiver viva e ainda o quiser. Porque eu quero tanto ele que preciso. Eu fumo para pensar em coisas difíceis, eu fumo para esperar, para atravessar a rua, para piorar meu enjoo esperando que ele passe...
Enquanto separo meu dinheiro escuto um pai e um filho conversando. Eles estão decidindo o que comprar na banca. O pai comprou cigarro e o filho quer guloseimas. O filho escolhe seus doces e diz que quer mais um chocolate. O pai responde que na volta eles pegam mais um. A criança aceita a decisão, mas pede uma garantia “quando o sol se pôr?” ele pergunta. E com certeza o pai responde “quando o sol se pôr.” Eu achei isso de uma poesia tremenda. Que coisa mais linda e cotidiana. Qual seria o simbolismo do pôr do sol para eles dois? Relaciono com a esperança. É sempre um alívio saber que o sol vai se pôr mais uma vez tal como saber que novamente ele se levantará.
Eu sinto falta de ver o sol se pondo. Eu sinto falta da calmaria de sentir esse momento. Das águas geladas de uma cachoeira congelando meu pé e da tranquilidade de acordar numa praia deserta. É como se eu nunca mais pudesse fazer essas coisas. Atravesso a rua desatenta enquanto guardo o maço dentro da bolsa. Eu escuto um barulho muito alto. Sinto o impacto. Agora não há mais nada. Parece que não verei mais o sol se pôr.
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sexta-feira, 27 de dezembro de 2019
Caminho para Santiago
A arte de perder, de fato não é tão difícil de dominar.
Vá até o seu armário, sua arara, sua mala, sua sacola. O lugar qualquer que seja aquele que você guarde suas roupas.
Encare todas as histórias que elas te contam. Escute uma por uma. Relembre com dor e com pesar. Relembre com alegria e alívio.
É importante sentir todos estes sentimentos para que o processo de perda se complete.
Depois de escutar tudo o que as roupas te falam, perceba com quais histórias você não se conecta mais.
Quais história já estão na sua cabeça, aquelas que você não precisa mais de um lembrete. Aquelas que já não cabem mais em você.
Coloque elas uma ante a outra. De preferência em um lugar grande como uma cama ou o chão.
Deixe que elas conversem entre si. Que troquem palavras e que desvendem umas as outras.
Estes processos podem demorar mais que alguns poucos minutos.
Quando não houver mais nada para ser dito, mais nada para ser escutado, separe aquelas que já não se encaixam mais em você.
Guarde-as com o carinho de como quem diz até logo. Deixe-as distantes.
Já estão prontas para a separação, mas ainda não é hora.
Se acostume com a ideia de deixá-las ir.
Coloque-as em um canto, um lugar que você não use, não mexa muito e pouco veja.
Permita que elas descansem fora do seu convívio e rotina.
Mas, enquanto isso, as observe de vez em quando. Talvez uma olhada antes de dormir. Uma piscada enquanto você relaxa tomando café.
E vá
Se acostumando
Com a ideia
De deixá-las
Ir.
Toda vez que você percebe-las ali ainda presentes, veja como sua vida e você seguiram sem elas.
Sim, você também seguiu.
Tudo continuou enquanto elas repousavam.
E uma vida seguiu sendo construída ao redor delas.
Um dia então, você notará que as conexões se foram.
Que os motivos já não são mais motivos.
Como quem dorme em um dia ensolarado e acorda para uma manhã chuvosa, você despertará sem o desejo de permanecer.
Esta é a forma com a qual você as deixará partir.
Sem tentar substituí-las.
Sem tentar trocá-las.
Acontecerá um dia em que elas simplesmente não te pertencerão mais.
E você tampouco pertencerá a elas.
Neste dia, você dirá adeus.